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Prospecção no RN revela agravos à saúde de jovens e adolescentes


01/04/2024

Eric Andriolo (Agenda Jovem Fiocruz)

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A Secretaria de Saúde Pública e a Subsecretaria de Juventude do Rio Grande do Norte anunciaram no dia 23 de março os principais dados sobre demandas de saúde da juventude potiguar. Entre os destaques estão casos de internação de meninas e mulheres após o parto, bem como a violência, que atinge principalmente jovens pardos e pretos. Jovens e adolescentes representam aproximadamente 30% da população do estado, com 3,3 milhões de cidadãos, sendo que jovens são 23% e adolescentes são 7%.

Os resultados fazem parte da prospecção de uma política de cuidado para juventude e adolescência para o Sistema Único de Saúde (SUS) nos estados do Nordeste, fruto de uma parceria entre governos estaduais da Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e a cidade do Recife com a Agenda Jovem Fiocruz e o Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa (CSEB) da Faculdade de Medicina da USP.  No Rio Grande do Norte, o Observatório Infanto Juvenil em Contextos de Violência (OBIJUV) da UFRN também integra a iniciativa. 

A ideia é responder às demandas em saúde de adolescentes e jovens a partir da atenção primária, tendo como inspiração a Linha de Cuidado para Adolescentes e Jovens (LCA&J) implementada no estado de São Paulo. A prospecção permite que cada estado identifique as demandas locais e decida como direcionar as políticas de saúde para esse público. É aquilo que os especialistas chamam de política “ascendente”: que é feita de baixo para cima.

“As construções ascendentes têm grande potencialidade de responder às necessidades locais. Quando vamos ao território, temos a possibilidade de construir caminhos para que os profissionais tenham direções mais efetivas para encaminhar os pacientes”, afirma a pesquisadora responsável pela prospecção da Linha de Cuidado no RN, Pryscylla Fideles.

A região de saúde de Mossoró foi escolhida como região de referência. Com a maior quantidade de jovens, essa área contém 146 unidades básicas de saúde e 9 centros de atenção psicossocial. Também apresenta números elevados de internações e mortes de jovens e adolescentes. 

Apesar de Mossoró abarcar 14% dos jovens e adolescentes potiguares, a região responde por 20% do total de óbitos por causas externas dessa população no RN. Nesse público, 76% das mortes foram causadas por agressões em 2021, de acordo com dados do SUS.

Violências e dificuldades no parto se destacam

Para elaborar uma linha de cuidado no Rio Grande do Norte, foi preciso mapear todas as 1.306 unidades de atenção básica e 55 centros de atenção psicossocial do estado. Os dados são de 2021.

Nas mulheres, a gravidez é a principal causa, representando 80% dos casos, especialmente entre adolescentes. O recorte racial também é importante: 73% dessas mulheres eram pretas. O parto representa 10% das causas de morte entre mulheres adolescentes e jovens no RN. Segundo os pesquisadores, isso é evidência de problemas na qualidade do cuidado pré-natal. 

Já entre os homens, chama atenção o número de casos de violência, especialmente entre pardos e pretos. “Causas externas” como acidentes, envenenamentos e violências são os principais motivos de internação de jovens e adolescentes, representando 75% dos casos de morte nesse grupo, especialmente entre pardos (77%). Pessoas pardas são 51% da população potiguar. 

Para o subsecretário de Juventude do Rio Grande do Norte, Gabriel Medeiros, os dados são importantes para incluir jovens nas políticas de saúde: “A juventude muitas vezes é invisível para as políticas públicas. Especialmente na saúde, em função da tese de que o jovem não adoece. Produzir dados e elaborar uma política estruturante do SUS para a juventude é importante para desmistificar essa compreensão”. Afirma. 

Dados do SUS revelados pela Fiocruz em dezembro revelam agravos à saúde dessa população. Jovens representam um terço das vítimas de acidentes de trabalho. Problemas de saúde mental são a primeira causa de internações entre homens jovens. Já para as mulheres, um dos principais motivos é a esterilização.

“Os dados de saúde mental, saúde sexual e reprodutiva e saúde do trabalhador, para citar três exemplos, comprovam que a experiência juvenil brasileira impõe agravos à saúde que justificam atenção especial das políticas públicas a esse setor”, complementa o subsecretário.

Linha de Cuidado 

Linhas de Cuidado são uma estratégia de organização da atenção à saúde no SUS, que busca articular toda a rede de serviços de um território a partir da atenção Básica para o cuidado a uma determinada população ou questão de saúde. O objetivo da Agenda Jovem Fiocruz, da Equipe de Pesquisa da LCA&J do CSEB e das secretarias dos estados é desenvolver uma Linha de Cuidado especificamente para jovens e adolescentes, público que recebe pouca atenção dos serviços de saúde.

“Jovens têm necessidades distintas de acordo com a faixa etária e outros marcadores sociais. Por exemplo, nem todo jovem é adolescente”, explica André Sobrinho, coordenador da Agenda Jovem Fiocruz. “Apesar de sofrerem vários agravos à saúde, pessoas jovens apresentam dificuldade em acessar os serviços. Por isso, uma Linha de Cuidado pode oferecer um melhor acolhimento a essa população. Isso requer alinhamento entre pesquisa e gestão, o que abre muitas possibilidades de adaptação ao território”, completa.

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